Blog do Ronaldo

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Mulheres musculosas: elas são bonitas

Os padrões de beleza mudam. Mudam-se os tempos, mudam-se os gostos estéticos. Os filósofos gregos quando começaram a discutir o “belo” acabaram por criar uma espécie de cânon de beleza. Alguns daqueles valores referenciaram a sociedade daquela época. Entretanto, outros foram eternizados. Permanecem, pois reproduzem leis invariáveis da estética. Estas estariam relacionadas à capacidade de produzir prazeres autênticos. Platão, por exemplo, fala da relação entre harmonia e bondade de caráter, do bom comportamento, da simplicidade, da alma humana dotada de bons sentimentos, amor. O belo, portanto, não estaria apenas na aparência, naquilo que se vê na exterioridade.

Mas aqui a proposta não é refletir sobre o pensamento teórico que fundamenta as discussões estéticas. Apenas intenciono pensar alto sobre o que publicou a Época na edição desta semana. A revista traz uma ótima reportagem sobre a beleza feminina no século XXI. Com o título “A beleza da força”, a Época sugere que o corpo musculoso parece representar uma nova estética feminina. São mulheres que malham, que gastam horas na academia para definir braços, coxas, abdome, bumbum. Elas têm mais que medidas perfeitas e corpos durinhos – com pouca ou nenhuma flacidez. Possuem músculos.

A pergunta que norteia a reportagem é: essas mulheres saradas são realmente bonitas?

Difícil responder. O assunto é polêmico. Gostos são culturais. E numa sociedade onde se convive com a diversidade, nem sempre o que agrada a um grupo de pessoas é capaz de agradar a todos.

Nas passarelas, por exemplo, não há espaço para mulheres bem torneadas. Lá é o reino das magras, quase anoréxicas. As formas não são valorizadas. Por isso, não é incomum dizer que as modelos são uma espécie de “mulher cabide”.

Os produtos de mídia – na tevê, revistas etc – também destacam as magras. Mas os tipos são um pouco mais variados. As “gostosas” são as que mais fazem sucesso. Elas aparecem nas capas das publicações, são referência de saúde e beleza – além de serem as preferidas dos fotógrafos para as revistas de fofocas e celebridades.

Mas e no mundo real? No reino das milhões de anônimas espectadoras desse padrão estético que domina a moda e a mídia?

Uma coisa é certa: elas estão insatisfeitas. São pressionadas a reproduzirem a beleza das modelos, atrizes e das musas do carnaval. Se olham no espelho e só conseguem ver o que falta. Ou que o que sobra. E é verdade… Anda sobrando muito mais. Afinal, tem crescido o número de pessoas com sobrepeso ou obesidade.

Bem, no mundo real, o que nós homens também opinamos – ou pelo menos gostaríamos de nos fazer ouvidos -, agradam os olhos aquelas que preservam a feminilidade. E aqui a aparência tem importância, mas não é só isto. Somos capazes de ignorar uma ou outra celulite, algumas curvinhas fora do lugar.

Mulheres fortes parecem ocupar o lugar do homem. Músculos são sinais de força – historicamente, característica muito mais masculina.

Desejamos mulheres que sejam diferentes de nós. De corpo e alma. Queremos mulheres que cuidem do corpo, mas que saibam que preferimos formas graciosas e preservem o jeito feminino de ser.

Posted via email from Ronaldo Nezo

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

O que rouba nossa felicidade?

A felicidade é um estado de espírito. Buscamos a felicidade. Mas esta nem sempre é um bem que se alcança. Por vezes, ela também nos escapa. E, por incrível que pareça, em várias circunstâncias, por nossas próprias escolhas. 

Há inúmeras situações que roubam nossa felicidade. Nem sempre temos controle disso. São fatores externos, alheios a nós. Porém, tenho notado que também criamos condições para que esse sentimento bom nos abandone. Eu diria que buscamos a nossa própria derrota. E a frase "eu era feliz e não sabia" se torna uma verdade. 

Embora a definição de Sócrates para a felicidade possa parecer um tanto confusa, ela traz algumas verdades eternas. O filósofo grego ensina a bem pensar para bem viver. Ele aponta que a única maneira de alcançar a felicidade é através da prática da virtude. E a virtude se adquire com a sabedoria. A virtude é o agir corretamente, é procurar fazer o bem. 

Não é simples fazer o bem. Não é simples ter uma vida irrepreensível. Atos virtuosos, segundo Sócrates, são resultado da sabedoria - uma virtude de alma que é concedida pelo divino, por Deus. Para o filósofo, ser sábio é mais que agir racionalmente; é ter controle sobre o corpo, ter domínio de si mesmo. Ele ainda lista outros aspectos essenciais: a humildade, o conhecimento, a justiça, a piedade.

Logo, quem pratica a virtude é feliz. 

Tarefa difícil. Difícil, porque somos impelidos a viver o contrário disso tudo. Queremos o que não temos, amamos o que não podemos, odiamos o que deveríamos amar, priorizamos nossos anseios e prazeres; abnegação, negação do próprio eu nos parecem pesos que não podemos suportar. 

Como dominar os desejos? Como controlar as vontades? Como ser humilde quando o mundo nos parece agressivo, intolerante, prepotende? Como ceder se tudo se resume em competir? Como ser justo se a justiça nos falta? Como ter piedade se o que notamos é o egoísmo, a falta de compaixão? Como bem querer se nos sentimos odiados, invejados, apunhalados pelos próprios amigos?

Acontece que a paixão momentânea - aquela que nos conduz a atropelar o que Sócrates chama de "prática da virtude" - rapidamente se esvai, como grãos de areia que escorrem por entre os dedos e escapam de nossas mãos. Sobram a desilusão, a solidão, a culpa, o arrependimento, o sofrimento, a infelicidade. 

É verdade... Uma vida virtuosa não causa euforia. Talvez por isso sugere ser tão chata, sem graça. Queremos experimentar grandes emoções. Entretanto, a prática da virtude, embora não prometa acelerar o ritmo de nosso coração, garante calma, paz de espírito. E, ainda que me aborreça admitir, nada faz alguém mais feliz que estar em paz. 

Posted via email from Ronaldo Nezo

terça-feira, fevereiro 09, 2010

A igreja e a sexualidade

Dia desses trato desse assunto por aqui. Por enquanto, sugiro a leitura de uma breve entrevista com um pesquisador cristão sobre o assunto. Entre outras coisas ele diz:

A sexualidade é um não-tema. Pode-se viver e morrer numa igreja evangélica por 70 anos e nunca ouvir um estudo sobre o assunto. A grande realidade: ainda é um tema-tabu. A minoria que estuda, o faz, em geral, com dois defeitos: primeiro, não leva em conta a contribuição científica e, segundo, 99% dos livros e palestras que estão por aí são de uma linha só, que é a conservadora. A Igreja ainda não aprendeu a ouvir os diversos pontos de vista que foram sendo construídos na teologia. Então, é um quadro gerador de culpas e neuroses: aí estão os psicólogos e psiquiatras seculares para atestar isso.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Quem tem medo do mundo real?

Anos atrás este não seria um assunto a ser discutido. Ter uma vida paralela era sinônimo de segredos reais, no mundo real. Algo do tipo "relacionamento proibido", "amante", "histórias escondidas no passado"... Fatos que não podiam ser revelados - por envergonhar ou pelo potencial de escândalo. Nunca se imaginava que o real pudesse se confundir com o virtual, onde o imaginário se torna tão ou mais importante que as experiências concretas, que se dão num determinado tempo e lugar. 

Nesta semana, depois de deixar a casa mais vigiada do Brasil, a jovem Tessalia postou no Twitter: "Acho que me dou melhor com pessoas virtuais mesmo". Tessalia foi eliminada do Big Brother Brasil. Teve 78% dos votos. Uma rejeição recorde num paredão triplo. Ela foi reprovada por boa parte dos concorrentes ao prêmio do programa. Também desagradou muita gente aqui fora. 

Não tenho aqui a intenção de discutir o comportamento da paranaense. Nem pretendo apontar os motivos que resultaram em sua eliminação do BBB. Quero apenas refletir sobre a frase que publicou no microblog. Em poucas palavras, Tessalia resumiu uma grande verdade. Hoje, não são raras as pessoas que preferem o mundo virtual ao real. A vida virtual, construída nas relações que se dão pela rede mundial de computadores, parece exigir menos comprometimento. Os conflitos podem ser eliminados pelo simples ato de deletar ou excluir um perfil. 

Tessalia é um exemplo dessa geração virtual. A jovem tem cerca de 100 mil seguidores no Twitter. Gente que acompanha e interage com a paranaense. Pela rede, Tessalia faz amigos, conversa, se diverte. Ela se revela, dá opinião, é "dona de si". Mas e no mundo real? No trato com as pessoas, no dia-a-dia, dentro de uma casa vigiada por câmeras, sob o olhar de milhões de espectadores, essa garota, que faz sucesso nas redes sociais, simplesmente sucumbiu. Por isso, ao dizer que se dá melhor com pessoas virtuais, Tessalia aponta que há uma nova forma de viver, de se relacionar, de fugir. É o grito de alguém que reconhece ter dificuldades para atender as expectativas do outro. 

Ela não é única. A internet, as novas tecnologias, as redes sociais formam um universo paralelo que nos realiza e dá prazer. Parecem atender nossos sentidos, a vontade de ser alguém. Nela, fugimos ou nos revelamos. Somos anônimos ou celebridades. Podemos usar todas as máscaras, correr riscos, falar o que desejamos, dar vazão aos nossos instintos de "voyer" expiando, monitorando a vida alheia. Conseguimos nos realizar sendo o que gostaríamos de ser e não o que de fato somos no mundo real. 

O problema é que, quando desligamos o computador, saímos da rede, nos confrontamos com a dura realidade. Nela temos de olhar nos olhos, falar ou agir diante de pessoas que nos veem, que sentem as palpitações de nosso coração. O medo, a insegurança, o desejo de sermos queridos, desejados, aprovados nos sobressaltam, assustam.

Mas se a fuga para o virtual nos consola; por outro lado, não põe fim a eterna angústia de nos sentirmos gente. Se abrirmos mão das pessoas reais, do mundo real, estaremos abdicando do direito de viver.  

Posted via email from Ronaldo Nezo