A revista Época desta semana traz uma reportagem muito interessante que quero compartilhar com você... O título é “Por que o brasileiro não reclama?”.
Segundo a Época, nós não reclamamos porque a gente acredita que, se ninguém reage, é melhor a gente também não reagir.
Observe um exemplo curioso... mulheres grávidas têm o direito a um assento especial no transporte coletivo. Isso é lei. E a garantia de assentos especiais vale também para mulheres com bebê no colo, idosos e pessoas com deficiência.
Agora, me diga uma coisa: quantas vezes você já viu mulheres grávidas, com bebê no colo ou ainda idosos espremidos dentro do ônibus do transporte coletivo? Quantas vezes você viu essas pessoas reclamando o direito assegurado por lei?
Na verdade, caro amigo, não se trata de um problema exclusivo do transporte coletivo. O brasileiro não tem mesmo o hábito de protestar. A corrupção dos políticos, o aumento de impostos, o descaso nos hospitais, as filas imensas nos bancos e a violência diária só levam a população às ruas em circunstâncias excepcionais.
Mas, por que isso acontece? A resposta a tanta passividade pode estar em um estudo de Fábio Iglesias, doutor em Psicologia e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, o brasileiro age de acordo com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. Essas pessoas pensam assim: se o outro não faz, por que eu vou fazer?
O problema, amigo, é que, se ninguém diz nada e conseqüentemente nada é feito, o desejo coletivo é sufocado.
Curioso é que esse nosso hábito de reclamar aparece até mesmo quando a gente sofre prejuízos. Tem gente que compra um produto, o produto vem com defeito, a pessoa tenta trocar, não consegue e fica por isso mesmo... Pior é que, muitas vezes, as pessoas nem tanto trocar o produto com defeito. E sabe, essa lógica vale até mesmo para produtos de consumo... como um pão, por exemplo. Você vai na padaria, compra o pão, ele vem embolorado e você fica com vergonha de pedir a troca...
Conforme esse estudo, a crença de que “não-vai-dar-em-na-da” é o discurso comum entre os “não-reclamantes”. É uma mistura de vergonha, medo e falta de credibilidade nas autoridades.
O antropólogo Roberto DaMatta diz que não se pode dissociar esse comportamento omisso dos brasileiros da prática do “jeitinho”. Para ele, o fato de o povo não lutar por seus direitos, em maior ou menor grau, também pode ser explicado pelas pequenas infrações que a maioria comete no dia-a-dia. “Molhar a mão” do guarda para fugir da multa, estacionar nas vagas para deficientes ou driblar o engarrafamento ao usar o acostamento das estradas são práticas comuns e fazem o brasileiro achar que não tem moral para reclamar do político corrupto.
Bem amigo, se você é uma pessoa que reclama, protesta, faz valer o seu direito, você é exceção no Brasil. Todos os estudos feitos sobre o comportamento do brasileiro apontam numa mesma direção: somos passivos. Só que essa passividade só nos faz mal e ajuda a manter o país do jeito que está. E sabe, nosso protesto não precisa ser nas ruas... A gente pode causar grandes mudanças quando, nas filas de espera ou na compra de um produto com defeito, nós agirmos de acordo com a consciência do que é certo. É preciso pôr fim ao silêncio. O primeiro passo para a mudança deste país é abrir a boca.
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