Numa semana de descobertas, estou conhecendo o movimento identificado como Bicicletada. Por aqui, a coisa ganhou uma certa organização. Embora não tenha “dono”, diretor de evento ou qualquer função parecida, gente que gosta de pedalar se une para mostrar que é legal deixar o carro em casa e andar de bicicleta. Cerca de 300 cidades já recebem o movimento.
A “brincadeira” começou há 17 anos em São Francisco, nos Estados Unidos. Por lá o nome é Critical Mass – ou, Massa Crítica. Toda última sexta-feira do mês, por volta das seis horas da tarde, ciclistas se encontram numa pracinha da cidade. Ciclistas da cidade inteira. Gente que não se conhece, mas que curte a ideia de pedalar. Quando o grupo se torna grande, consistente, sai pelas ruas de São Francisco sem destino certo, invadindo espaços, ocupando o lugar dos carros e motos e promovendo um ato público de resistência aos veículos.
Nem todo mundo gosta da Massa Crítica. Por serem centenas de ciclistas juntos e interromperem o trânsito, invadirem ruas e avenidas importantes de São Francisco num horário complicado – seis da tarde -, existem pessoas que acusam os ciclistas de prejudicaram o trânsito. Mas as reclamações não são maiores que as conquistas do movimento. Sem bandeiras ou protestos formais, o Critical Mass, com irreverência e diversão, tem estimulado parte da população daquela cidade americana a usar a bicicleta como meio de transporte.
As magrelas talvez sejam a melhor alternativa para os atuais problemas de trânsito. Embora muitos gestores públicos defendam o transporte coletivo, o ônibus está longe de reunir as vantagens do uso das bicicletas. Para começar, elas garantem liberdade. Semelhante aos veículos motorizados, o proprietário pode chegar e sair no momento desejado e percorrer o destino que bem entender.
No entanto, no Brasil estamos longe de reconhecer esse tipo de transporte. Primeiro, por causa do nosso olhar preconceituoso. O carro está associado a status. Logo, andar de bicicleta é coisa de pobre. Imagina só um vendedor chegar numa empresa de bicicleta?! É bem provável que o cliente o considere um vendedor “pé-de-chinelo” – ou mesmo não o receba. Então, uma das coisas a fazer é mudar a visão cultural de nossa gente.
Mas há outros desafios. Faltam pistas exclusivas, lugares para guardá-las (os chamados bicicletários). Poucas empresas oferecem locais para banho e troca de roupas. Teatros, parques e até academias também não têm espaços apropriados para os ciclistas. Nossas ruas são esburacadas, não há sinalização específica e os motoristas desrespeitam quem pedala.
Em São Francisco, a Massa Crítica tem provocado mudanças. Na Europa, há avanços significativos. Quem sabe por aqui a Bicicletada possa ajudar a mudar essa realidade. E mais bicicletas estejam nas ruas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário