Há dias mantenho num balcão de minha casa uma revista. Ela está lá, sem abrir. A publicação tem uma linha editorial que não desperta meu interesse. Mas na capa tem a chamada para uma reportagem que leio todos os dias. É como se fosse uma frase a ser lembrada. Um alerta. Diz assim: “Saia do automático para encher a vida de alegria”.
Não li o texto interno da revista. Para mim, essa frase já basta. Ela é mais importante que qualquer dica. Ela é imperativa: “saia do automático”. A chamadinha da capa me diz que, se quero encher meus dias de alegria, preciso romper com o jeito automático de viver.
A frase está lá. Eu a vejo todos os dias. Pelo menos duas ou três vezes. Nesta semana, essa mensagem é significativa demais. Estou carregando um peso enorme por que de forma inesperada surgiu um novo desafio profissional que há muito tempo venho esperando. Entretanto, não vejo como equilibrar o sonho de “sair do automático” e assumir mais um compromisso. Ou dou conta do que estou fazendo ou aceito a proposta e me torno um robô.
Gosto demais de ser desafiado. Queria fazer muito mais do que faço. Queria escrever mais textos a cada dia, ler mais livros, estudar mais, descobrir novas coisas, dominar outros assuntos, dar mais aulas, orientar mais alunos, estar mais presente no dia-a-dia da CBN... Queria mais. No entanto, esbarro no tempo, no relógio, nas limitações físicas, no compromisso com a vida, com a família e na responsabilidade que tenho com as pessoas que esperam meu comprometimento profissional.
Busco acertar. E acertar passa pela tentativa diária de atender o imperativo: “saia do automático”. É uma escolha. Uma opção que tem custos. Mais que financeiros. Entretanto, acredito nas compensações. A recompensa de encher a vida de alegria é a mais esperada. Viver feliz é o que sonhamos. É o que dá sentido a nossa existência.
O trabalho, os compromissos profissionais, a realização de projetos de toda ordem fazem bem ao espírito. É bom se sentir útil. A gente gosta de saber que nossas habilidades são valorizadas. Afinal, também buscamos reconhecimento. Essa busca vem de uma necessidade intrínseca ao ser humano. Queremos ser amados, admirados, desejados.
Mas, ainda que tudo isso faça um bem enorme ao coração, é insuficiente para “encher a vida de alegria”. A longo prazo, os compromissos vão corroendo nossa existência. Aos poucos, o sentimento é de solidão, abandonado. É como se fossemos programados para nos relacionar, para ter momentos de lazer, descanso, diversão – sem esquecer de cuidar da espiritualidade. Por isso, há momentos em que há necessidade de frear, dizer não, cuidar da agenda a fim de garantir tempo para viver outras emoções.
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