Homens e mulheres se orgulham do mundo que construíram após a década de 1960. Esse foi um período de grandes transformações. Sob vários aspectos. Desde a produção cultural, passando pela economia, até as mudanças de hábitos e costumes.
Foi na década de 1960 que as mulheres declararam sua independência. Buscaram oportunidades no mercado de trabalho, lutaram pela igualdade de seus direitos e assumiram seus desejos sexuais.
Mas o que parecia a realização de um sonho se transformou em frustração. Uma reportagem publicada pela revista Época desta semana revela que as mulheres estão infelizes. Elas nunca tiveram uma vida boa. Entretanto, hoje estão muito mais tristes.
Um estudo realizado por dois pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, mostra que houve um declínio da satisfação feminina nas últimas três décadas. Parece contraditório. Afinal, parte dessa insatisfação tem relação direta com as supostas conquistas da luta feminista iniciada na década de 1960.
Elas ampliaram seus horizontes. Mas o fato de terem espaço semelhante ao dos homens – no trabalho, na vida, no sexo – trouxe conflitos subjetivos. Os pesquisadores Betsey Stevenson e Justin Wolfers afirmam que “a vida das mulheres ficou mais complexa e sua infelicidade atual reflete a necessidade de realização em mais aspectos da vida, se comparados aos das gerações anteriores”.
Na prática, “as mulheres foram para a rua, mas mantiveram a responsabilidade emocional pela casa e pela família.” Como diz a jornalista Martha Mendonça, da Época, é o pesadelo da dupla jornada, física e emocional, que exaure as mulheres e destrói casamentos.
Exige-se demais das mulheres. Exigência esta, é preciso dizer, que nasce quase sempre na própria mulher. Elas sonham alcançar as mesmas posições e salários que os homens, buscam ter vida social e sexual ativa, querem ser mães e donas de casa eficientes, e ainda se sentem obrigadas a estar sempre jovens e bonitas.
É impossível dar conta de tudo. Quando se tem sucesso profissional, a vida pessoal – casamento e filhos – geralmente fracassa. Se a prioridade for o lar – cuidar do marido, dos filhos, do lar -, dificilmente haverá realização no mercado de trabalho.
A decisão é dela. Esta liberdade de escolher causa ansiedade, medo. Elas se pegam a questionar: o que é melhor? Carreira ou família? Não são raros os casos de mulheres que abriram mão do casamento para ter sucesso profissional e hoje relatam estar infelizes. Elas querem construir um novo relacionamento. Mas também não estão dispostas a abrir mão da carreira. Então, o que fazer?
Soma-se a essas incertezas a maior pressão de todas: a busca da beleza e da eterna juventude. Nunca se valorizou tanto o corpo belo e jovem. O apelo estético beira a irracionalidade. Por isso, quanto mais os anos passam mais frustradas ficam.
O estudo desses pesquisadores americanos sustenta essa tese: após os 40 anos, as mulheres estão mais infelizes. E não se trata de algo objetivo, que medidas práticas possam resolver. O conflito é interior, subjetivo, tem a ver com os desejos de realização, as projeções que se tem para a vida.
Por isso, estar de bem a vida é também uma escolha. Uma escolha de aceitação. De compreensão que na vida não se tem tudo que se quer. Como dizem por aí: ninguém pode abraçar o mundo. Ser bem-sucedido em tudo é impossível. É preciso priorizar e se satisfazer com as conquistas, sem lamentar as perdas que certamente existirão.
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