Quem tem direito de interpretar a Bíblia? Para o Papa, apenas a Igreja Católica. De acordo com Bento XVI, sem a mediação da igreja, a Bíblia é um livro selado.
A declaração foi feita no início da semana num encontro com estudantes e professores do Pontifício Instituto Bíblico. Categoricamente, o Papa sustentou que apenas a Igreja Católica pode interpretar "autenticamente" a Bíblia.
Tenho grande respeito pelos católicos. Mas, convenhamos, a declaração é absurda. A Bíblia é um livro sagrado. Entretanto, atribuir a uma igreja apenas a capacidade de interpretá-la é, no mínimo, menosprezar a inteligência das pessoas. Também é colocar-se numa posição de autoridade que Deus não deu a nenhuma igreja. Os próprios escritos sagrados não trazem nenhuma indicação de que o livro é selado, obscuro para os pobres mortais.
A afirmação do Papa é uma agressão as demais religiões. Mais que isto. É uma atitude de desrespeito aos cristãos fiéis, dedicados ao estudo, a busca do entendimento e da santificação por meio do conhecimento e da fé.
A compreensão da Bíblia nunca se deu e nunca se dará por meio de uma igreja, de uma religião ou de um líder religioso. Não são raras as citações bíblicas que apontam a necessidade do estudo da Palavra. Estudo este individual, sem a mediação da igreja ou de um líder.
Quando aprendemos apenas por meio de outros, e não na pesquisa pessoal, podemos ser manipulados, orientados a ter uma visão distorcida do "assim diz o Senhor". Basta observar a nossa volta. Quantos vivem um cristianismo fajuta por que não conhecem a Verdade? Notem, por exemplo, as bobagens ditas por alguns líderes que se utilizam da Bíblia para alardear a Teoria da Prosperidade. Eles alimentam o imaginário dos fiéis pregando que basta ter fé e disposição para dar dinheiro para igreja e todos os problemas financeiros estarão resolvidos.
Um texto precioso da Bíblia me vem à mente. Está no primeiro capítulo do Apocalipse.
Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas (verso 3).
O texto não diz apenas "bem-aventurado aqueles que ouvem". Também não diz somente "bem-aventurado aquele que lê". O escrito profético diz bem-aventurado aquele que lê e que ouve. Ou seja, não ignora a importância do mediador. Mas sustenta a necessidade da busca individual pelo conhecimento. E se existe a busca por si só do conhecimento, é porque a interpretação autêntica não está restrita apenas a uma instituição religiosa.
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