Às vezes, uma ligação, um email, é suficiente para nos trazer recordações. Dias atrás comentei aqui a respeito de reflexões produzidas a partir de uma música. É mesmo assim... Coisas simples podem provocar nossa memória. Basta haver disposição para sentir.
Ontem, ao abrir a caixa de mensagens, encontrei um email que me deixou chocado. O conteúdo não precisa ser compartilhado. Mas os sentimentos gerados merecem ser “confidenciados”.
A pessoa que me escreveu é alguém especial. Vivemos uma amizade maravilhosa, bons momentos, lembranças que guardo no coração. Quando li, muitas dessas recordações vieram à mente. Fiz as contas... Nove anos. Este é o tempo que somos amigos.
Sinceramente, fiquei assustado. Parece que foi ontem... Não podem ser nove anos. Nove anos são mais de três mil e duzentos dias. Quase 80 mil horas. O que vivi nesse espaço de tempo?
Sim, foram muitas coisas. Nesse período, me formei, tive minha segunda filha, mudei de emprego algumas vezes, fiz outros amigos... Mas ainda assim dá a impressão que tudo poderia ser vivido, resumido, em um ou dois anos. Talvez menos.
Isto me trouxe à memória uma crônica que li anos atrás. Nem vou tentar lembrar quando... É provável que não acerte.
O autor contava de um viajante que chegou a uma cidade desconhecida. Logo na entrada, ficava o cemitério. Entrou. Viu um túmulo, outro... E foi ficando intrigado. As pessoas ali morriam muito jovens. Que cidade era esta?
Todos tinham menos de 20 anos. Era impressionante. Na lápide de um túmulo podia identificar que não tinha vivido mais de três anos e sete meses. Noutra, não passava de cinco anos. Seria uma peste? Algum tipo de maldição?
Minutos depois, encontrou um senhor que cuidava do local. Após cumprimentá-lo, não resistiu e perguntou o que havia acontecido com aquelas pessoas. A resposta foi surpreendente. Naquela cidade, não se contavam os anos como noutros lugares. Cada um registrava a idade de acordo com os dias mais significativos, aqueles que proporcionavam emoções reais, verdadeiras. Somente os dias realmente vividos eram contados. Por isso, mesmo quem tinha muitos anos de idade, geralmente não passava dos 15 ou 20.
A crônica é só uma forma fictícia de falar sobre a vida. Porém, é reveladora. Quantos dias terei vivido nesses últimos nove anos? Se tivesse anotado apenas os momentos significativos, qual seria o resultado? Dessas quase 80 mil horas quantas não foram desperdiçadas?
É difícil responder. Mas certamente muito desse tempo se perdeu entre compromissos, preocupações ou pela rotina que nos leva a um automatismo em que atos se repetem, enquanto a vida escapa.
Qual é nossa escolha? Participar da vida ou vê-la passar?
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