A felicidade é um estado de espírito. Buscamos a felicidade. Mas esta nem sempre é um bem que se alcança. Por vezes, ela também nos escapa. E, por incrível que pareça, em várias circunstâncias, por nossas próprias escolhas.
Há inúmeras situações que roubam nossa felicidade. Nem sempre temos controle disso. São fatores externos, alheios a nós. Porém, tenho notado que também criamos condições para que esse sentimento bom nos abandone. Eu diria que buscamos a nossa própria derrota. E a frase "eu era feliz e não sabia" se torna uma verdade.
Embora a definição de Sócrates para a felicidade possa parecer um tanto confusa, ela traz algumas verdades eternas. O filósofo grego ensina a bem pensar para bem viver. Ele aponta que a única maneira de alcançar a felicidade é através da prática da virtude. E a virtude se adquire com a sabedoria. A virtude é o agir corretamente, é procurar fazer o bem.
Não é simples fazer o bem. Não é simples ter uma vida irrepreensível. Atos virtuosos, segundo Sócrates, são resultado da sabedoria - uma virtude de alma que é concedida pelo divino, por Deus. Para o filósofo, ser sábio é mais que agir racionalmente; é ter controle sobre o corpo, ter domínio de si mesmo. Ele ainda lista outros aspectos essenciais: a humildade, o conhecimento, a justiça, a piedade.
Logo, quem pratica a virtude é feliz.
Tarefa difícil. Difícil, porque somos impelidos a viver o contrário disso tudo. Queremos o que não temos, amamos o que não podemos, odiamos o que deveríamos amar, priorizamos nossos anseios e prazeres; abnegação, negação do próprio eu nos parecem pesos que não podemos suportar.
Como dominar os desejos? Como controlar as vontades? Como ser humilde quando o mundo nos parece agressivo, intolerante, prepotende? Como ceder se tudo se resume em competir? Como ser justo se a justiça nos falta? Como ter piedade se o que notamos é o egoísmo, a falta de compaixão? Como bem querer se nos sentimos odiados, invejados, apunhalados pelos próprios amigos?
Acontece que a paixão momentânea - aquela que nos conduz a atropelar o que Sócrates chama de "prática da virtude" - rapidamente se esvai, como grãos de areia que escorrem por entre os dedos e escapam de nossas mãos. Sobram a desilusão, a solidão, a culpa, o arrependimento, o sofrimento, a infelicidade.
É verdade... Uma vida virtuosa não causa euforia. Talvez por isso sugere ser tão chata, sem graça. Queremos experimentar grandes emoções. Entretanto, a prática da virtude, embora não prometa acelerar o ritmo de nosso coração, garante calma, paz de espírito. E, ainda que me aborreça admitir, nada faz alguém mais feliz que estar em paz.
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