Anos atrás este não seria um assunto a ser discutido. Ter uma vida paralela era sinônimo de segredos reais, no mundo real. Algo do tipo "relacionamento proibido", "amante", "histórias escondidas no passado"... Fatos que não podiam ser revelados - por envergonhar ou pelo potencial de escândalo. Nunca se imaginava que o real pudesse se confundir com o virtual, onde o imaginário se torna tão ou mais importante que as experiências concretas, que se dão num determinado tempo e lugar.
Nesta semana, depois de deixar a casa mais vigiada do Brasil, a jovem Tessalia postou no Twitter: "Acho que me dou melhor com pessoas virtuais mesmo". Tessalia foi eliminada do Big Brother Brasil. Teve 78% dos votos. Uma rejeição recorde num paredão triplo. Ela foi reprovada por boa parte dos concorrentes ao prêmio do programa. Também desagradou muita gente aqui fora.
Não tenho aqui a intenção de discutir o comportamento da paranaense. Nem pretendo apontar os motivos que resultaram em sua eliminação do BBB. Quero apenas refletir sobre a frase que publicou no microblog. Em poucas palavras, Tessalia resumiu uma grande verdade. Hoje, não são raras as pessoas que preferem o mundo virtual ao real. A vida virtual, construída nas relações que se dão pela rede mundial de computadores, parece exigir menos comprometimento. Os conflitos podem ser eliminados pelo simples ato de deletar ou excluir um perfil.
Tessalia é um exemplo dessa geração virtual. A jovem tem cerca de 100 mil seguidores no Twitter. Gente que acompanha e interage com a paranaense. Pela rede, Tessalia faz amigos, conversa, se diverte. Ela se revela, dá opinião, é "dona de si". Mas e no mundo real? No trato com as pessoas, no dia-a-dia, dentro de uma casa vigiada por câmeras, sob o olhar de milhões de espectadores, essa garota, que faz sucesso nas redes sociais, simplesmente sucumbiu. Por isso, ao dizer que se dá melhor com pessoas virtuais, Tessalia aponta que há uma nova forma de viver, de se relacionar, de fugir. É o grito de alguém que reconhece ter dificuldades para atender as expectativas do outro.
Ela não é única. A internet, as novas tecnologias, as redes sociais formam um universo paralelo que nos realiza e dá prazer. Parecem atender nossos sentidos, a vontade de ser alguém. Nela, fugimos ou nos revelamos. Somos anônimos ou celebridades. Podemos usar todas as máscaras, correr riscos, falar o que desejamos, dar vazão aos nossos instintos de "voyer" expiando, monitorando a vida alheia. Conseguimos nos realizar sendo o que gostaríamos de ser e não o que de fato somos no mundo real.
O problema é que, quando desligamos o computador, saímos da rede, nos confrontamos com a dura realidade. Nela temos de olhar nos olhos, falar ou agir diante de pessoas que nos veem, que sentem as palpitações de nosso coração. O medo, a insegurança, o desejo de sermos queridos, desejados, aprovados nos sobressaltam, assustam.
Mas se a fuga para o virtual nos consola; por outro lado, não põe fim a eterna angústia de nos sentirmos gente. Se abrirmos mão das pessoas reais, do mundo real, estaremos abdicando do direito de viver.
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