Quem está seguro? Após as denúncias e prisão preventiva do médico Roger Abdelmassih, quem pode sustentar que não sente nenhum friozinho na barriga quando o tema é assédio sexual no consultório médico?
Por natureza, sou desconfiado. Desconfio de tudo e de todos. Obviamente, isto não me faz bem. Muitas vezes fico afastado das pessoas e gente com a qual poderia ter uma boa amizade também prefere manter comigo um relacionamento mais formal, pouco caloroso.
Essa minha desconfiança sempre me fez olhar para os consultórios médicos como um ambiente especializado para tratamentos de saúde, mas passível de revelar a face cruel do homem. Entendo que o médico deve ser um cidadão moral, ético – como qualquer outro. Contudo, exatamente por ser humano é frágil, fraco, capaz de agir impulsivamente, logo, criminosamente.
Caro leitor, não me entenda mal. Este texto não é uma declaração contra esses profissionais. Conheço dezenas deles, respeito-os, sei da seriedade e competência revelada no exercício de suas atividades. Não tenho nenhum elemento que possa colocar em xeque a idoneidade de médicos da nossa região. Mas ainda assim me pergunto: quem está seguro?
doutor_rogerRoger Abdelmassih era o médico das estrelas. Um homem conceituado. Amigo de Roberto Carlos, Hebe Camargo, Pelé; responsável pelo atendimento de gente do nível do ex-presidente Fernando Collor de Mello e a mulher, Caroline; Carlos Alberto de Nóbrega e Andréa; Moacir Franco e Daniela; o apresentador Gugu Libertado e a mãe de seus filhos, Rose. A lista é extensa. São mais de 7 mil bebês que vieram ao mundo por meio dos trabalhos realizados na clínica do especialista.
Entretanto, o fato de atuar há quase 40 anos, de ser um médico conceituado, a maior autoridade em reprodução assistida do país, dono de uma clínica poderosa, milionária, hoje, não representa absolutamente nada. Para as supostas vítimas do doutor Roger, tanta fama e poder só contribuíram para a disseminação do medo e do silêncio por tantos anos. Na prática, o status de Abdelmassih lhe deu uma autoridade que o mantinha imune a toda e qualquer acusação.
Ninguém ainda pode dizer que Roger Abdelmassih cometeu os crimes listados – estupro, assédio sexual e até mesmo pesquisas questionáveis, ilegais. Mas sua história contribui para causar medo. Afinal, o médico parece ser aquele ser deixado por Deus para auxiliar homens e mulheres a ter uma vida melhor – sofrer menos, aliviar a dor, realizar o sonho de ter um filho.
Quantos pacientes diariamente entram num consultório médico vendo ali um semi-deus? Alguém capaz de quase tudo? Por isso, sentem-se menores e colocam-se à disposição para realizar todo e qualquer tipo de procedimento. Então, como aceitar que nesse mesmo espaço convivam um anjo e um monstro?
Não há o que dizer a respeito da conduta médica. É desnecessário mencionar o código de ética. Tal código é só um documento. Ter formação numa determinada área não significa a vivência de artigos, incisos, parágrafos listados num papel qualquer. Este profissional, semelhante a outro, carece ser apenas um ser moral. No consultório, no balcão da loja, no guichê do banco, na publicação de uma notícia etc, espera-se apenas que não façamos ao outro aquilo que não gostaríamos que alguém fizesse a nós.
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