Vivemos um tempo em que supostamente as pessoas se respeitam mais, aceitam a diversidade, lidam bem os com os gêneros. Pelo menos este parece ser o discurso dominante. Somos todos iguais. A Constituição sustenta tal tese. Mais que a própria carta magna, há leis para garantirem o respeito ao outro. Mas existe de fato a aceitação?
Não creio nisto. Desde a infância, o diferente é agredido. Na escola, a vítima pode ser o negro, o pardo, o mais pobre, o tímido, o gordinho, o gago, o que fala errado, o que se veste “mal”, aquele que tem trejeitos e é tido como homossexual... Na verdade, passam-se as fases da vida e o comportamento preconceituoso, discriminatório só muda de lugar. Existe um abismo entre o discurso oficial de tolerância e nossas atitudes no dia-a-dia.
Egoístas como somos temos pouca disposição para aceitar o outro. Parece estar no nosso DNA o desejo de excluir. Queremos os diferentes bem longe de nós. Contudo, o mal é menor quando apenas nos afastamos. Noutras tantas ocasiões, falamos mal, caçoamos, perseguimos. Talvez por isso esteja tão na moda falar em assédio moral. E ele não acontece apenas na relação chefe-empregado. Colegas de trabalho praticam tal crime. Na infância, o termo para essa agressão é outro. Vem do inglês. Chama-se Bullying.
Uma outra forma clara da não aceitação do outro é observada na internet. Tenho dito que a rede revela o que há de mais cruel no caráter do homem. Tudo aquilo que as pessoas às vezes sentem desejo de dizer, mas não o fazem face a face, deixam extravasar em emails, comentários e textos publicados na web. É assustador.
Vejo, por exemplo, nos blogs – onde o espaço para o comentário é privilegiado -, agressões não adjetiváveis. Dá até a impressão que o autor seria capaz de praticar um ato de violência física, eliminar o outro. Chega a causar medo. Tem textos que me fazem pensar: o que uma pessoa dessas faria se estivesse num regime autoritário com o poder nas mãos?
Quando voltamos na história e apresentamos as atitudes de governantes ditatoriais, muitos ficam indignados, sentem revolta, questionam: como alguém é capaz de tal coisa? Concordo. Não é possível conceber que seres humanos torturavam seus iguais por coisas tão banais e, às vezes, por puro prazer de fazer o outro sofrer.
Entretanto, hoje revelamos a mesma face cruel em atitudes que procuramos esconder atrás de nossa máscara social. Apresentamo-nos como defensores da igualdade, da aceitação, da democracia, mas, no anonimato, ofendemos, agredimos pelo simples fato de o outro ser diferentes de nós – ou por ter opinião contrária. Na verdade, não queremos entender o outro. Desejamos um mundo desenhado à nossa maneira.
Fazemos isso, inclusive, com nossos filhos. Queremos que eles sejam como nós. Às vezes dá tão certo que a molecada reproduz nossa arrogância e despejam toda maldade contra inocentes que sequer têm a chance de se defender.
Sabe, este texto não tem a intenção de concluir nada. Apenas fazer pensar... Pensar no quanto somos mesquinhos e hipócritas. Nosso discurso é de tolerância, mas será que a praticamos? Falamos em espírito democrático, mas temos vivido a democracia?
A vida é mesmo cheia de contradições. Mas há espaço para nos tornamos melhor como seres humanos.
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