Vivemos tempos de indisciplina. Total, irrestrita, ampla e, talvez, permanente. Não sei se poderia dizer que se trata do verdadeiro “mal do século”, mas a ausência de regras – ou a incapacidade de estabelecê-las – nos faz observar o crescimento de uma geração autoritária, dominadora.
Talvez o parágrafo acima revele uma visão catastrófica. Mas é assim que avalio o cenário construído pelos pais “modernos”. A mesma frouxidão moral que notamos na política, existe na esfera educacional doméstica. Pais frouxos, incapazes de fazer valer critérios básicos de comportamento.
Estou longe de ser um pai-modelo. E, distante de ter uma família-modelo. Entretanto, ainda entendo que adultos somos nós, pais. Crianças são crianças; seres em formação. A autoridade é nossa. Somos nós que temos mais vivência, experiência, discernimento. Não são as crianças. Elas são lindas, encantadoras, a “coisa mais lindinha do papai”, mas não mandam. Ou pelo menos não deveriam.
Na verdade, este é o problema. Elas não deveriam mandar. Contudo, tenho visto filhos com dois anos fazerem os pais de “gato e sapato”. É ridículo, mas fico notando mães correndo atrás de suas crianças, perdidas, desesperadas, descontroladas, incapazes de conter um ser tão pequeno. Afinal, quem é a mãe?
Como alguém de dois, três anos pode dominar completamente um adulto com mais de 20 ou 30 anos? Chega a ser engraçado vê-las gritando com suas crianças. Deixam os pequenos neuróticos, ainda mais agitados e irritadiços, mas não conseguem dar conta de dominar os filhos.
Pelo lado deles, os homens fazem “cara de paisagem”, alguns até tentam falar grosso, mas caem diante dos reizinhos após poucas frases teimosas ou de insistências. Também não são capazes de resistir ao charminho das crianças e acabam achando tudo bonitinho. Mal sabem eles que podem estar contribuindo para as crianças de hoje se tornarem monstros amanhã.
Muitos pais de hoje são frouxos, não porque deixarem de bater nos filhos. De maneira alguma. Dia desses ouvi uma mãe confessar a uma amiga: “não sei mais o que fazer. Já briguei, já bati, deixei de castigo, só falta espancar”. Detalhe, a fera a ser domada tem apenas dois anos. Esses pais são frouxos, pois são inseguros, incoerentes. Não possuem um projeto de educação para os filhos. Não tem nada a ver com correção física.
Na verdade, o que reina na proposta disciplinar das crianças é o amadorismo. É verdade que nenhuma delas vem com manual de instrução. Mas, se para tudo nos preparamos, por que a educação dos pequenos é feita na base do “achismo”? Vai dar errado mesmo. Os pais devem saber o que querem para os filhos. Precisam dialogar, estudar, conversar com gente que reúne condições de aconselhar e aplicar a disciplina em comum acordo. Quando a mãe diz algo, o pai sustenta. Mesmo se alguém estiver errado.
Os filhos reconhecem as contradições e conflitos disciplinares. Eles nascem “programados” para testar nossos limites. E, diferente de nós, são persistentes. Ganham fácil a disputa, se, do outro lado, não houver educadores prontos para o desafio. O processo disciplinar se dá numa arena entre gladiadores. No entanto, o cenário não é de briga. Não é uma luta para saber quem é o mais forte. É um embate, apenas porque de um lado está um pequeno ser que reclama desesperado por formação.
Um comentário:
É lamentável reconhecer o despreparo existente na educação dos filhos. Enquanto predominar a atual alienação dos princípios morais, a tendência será trágica.
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