O rico gasta em três dias o que o pobre gasta em um ano. Este é o retrato da desigualdade revelado nas primeiras análises feitas pelo Ipea, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, com base nos dados do Pnad, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE.
Quando vi a notícia, republiquei no Twitter. Acrescentei um breve comentário. Apontei: é revoltante. Não, não fico revoltado com os gastos dos ricos. Reconheço que muitos esbanjam, jogam dinheiro fora. Entretanto, o que leva à indignação é a desigualdade. Enquanto alguns têm muito, outros têm tão pouco. E os que vivem com pouco são a maioria.
Esta semana conversei com um pós-doutor em Economia da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. Falávamos sobre a diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico. As duas coisas, conceitualmente, são diferentes. Historicamente, o Brasil é uma máquina de crescimento. Entretanto, segue patinando quando o assunto é desenvolvimento.
O crescimento implica na geração de riquezas. O tamanho do PIB, o Produto Interno Bruto. Mas, quando não disciplinado, planejado, não beneficia a todos.
Já desenvolvimento é algo mais complexo, amplo. Estamos falando do crescimento de riquezas que resulta na promoção humana, que dá garantia mínima de acesso de um povo aos bens e serviços gerados por uma nação. E isto efetivamente não ocorre no país.
Entre 1930 e 1980, o Brasil foi um dos campeões mundiais em crescimento econômico. Superamos até mesmo o Japão, uma das mais importantes economias do mundo. Mas quanto avançamos na distribuição de nossas riquezas?
Boa parte da população não tem trabalho digno. Não tem renda suficiente para atender as necessidades básicas do homem – alimento, moradia, saúde, educação. Aqui não relacionamos sequer o direito ao lazer, fundamental para que a vida não se torne um fardo.
O governo federal argumenta que gasta bilhões em políticas públicas de promoção humana. O Bolsa Família é uma dessas alternativas. É preciso reconhecer, as pessoas atendidas ao menos conseguem ter alimento na mesa. E há, teoricamente, a contrapartida da educação. Mas é suficiente? Não. Chega ser uma agressão ao ser humano acreditar que o Estado cumpre seu dever ao oferecer, em média, 50 dólares/mês às famílias em situação de risco.
O dever do Estado é reduzir a distância entre ricos e pobres. Isto não se faz acabando com os ricos, como se tentou fazer no passado nos chamados países comunistas. Faz-se como resultado de políticas públicas que garantam condições iguais a ricos e pobres, e de intervenção direta em questões fundamentais como, por exemplo, o acesso à moradia. A contradição chega ser intrigante. Quem pode pagar, tem casa; quem não pode, depende do aluguel – ou vive de favor ou ainda nas favelas.
E os tributos? Um estudo recente revelou: o pobre é quem, proporcionalmente, paga mais impostos. E a educação? Os menos favorecidos dependem da educação pública, que, lamentavelmente, tem pouca qualidade. Na saúde? Vai para o SUS. Quando precisa de tratamento especializado, fica meses até anos na fila de espera.
Superar tamanha desigualdade deve ser vista como prioridade. Não apenas pelo governo. Deveríamos nos sentir responsáveis. As consequências afetam a nação. E o maior exemplo é a escalada da violência.
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